domingo, 1 de abril de 2012

Talentos onde estão?


Deparamo-nos, hoje, com uma realidade incontornável. A origem dos jovens talentos vem de locais adjacentes aos centros urbanos, de classes sociais média/baixa. Classes sociais média/baixa porque? Não têm tanta disponibilidade financeira, o que não permite dar aos seus filhos os mais recentes jogos informáticos, ou aparelhos audiovisuais que “retenham” os filhos em casa. 


O computador, a televisão, os jogos informáticos “prendem” os jovens em casa, não permitem que estes explorem a rua, que brinquem normalmente, que adquiram faculdades psicomotoras, que desfrutem do contacto com a natureza e com a realidade, que joguem futebol na rua sem complexos, sem pudores, joguem no largo, na estrada, no descampado. A taxa de sedentarismo aumenta na população infantil, os jovens não aprendem a resolver os problemas na rua, não aprendem a correr, a magoar-se, a enfrentar os medos. Não têm grupos de amigos fisicamente, aqueles grupos em que estão presente continuamente a estimulação física, desde a uma simples corrida, a uma organização de um jogo de rua espontaneamente. 


Em vez disso, temos hoje a reunião pela internet, onde, sentados numa cadeira, os jovens jogam futebol, mas no computador, passando dias no quarto, em interação com amigos virtuais ou não, mas sem presença física. O contacto físico, o aumento da tonificação muscular, a estimulação da condição física, desaparece dando lugar ao sedentarismo, à perda de capacidades motoras, perceptivo-cinéticas, ingerindo alimentos altamente nutricionais, que aumentam o índice de massa gorda corporal. A consequência é perda de potenciais jogadores e pior aumento da obesidade e excesso de peso infantil, aumento da probabilidade de doenças, o problema social do século.


Resumindo, os jovens, de classes média/baixa, têm que se recrear sem ser pela inatividade de jogos informáticos, ou seja, saem à rua, encontram amigos, correm, saltam, caem, levantam-se, magoam-se, recuperam, estão predispostos para a atividade física e para a capacidade de sofrimento. Depois têm a espontaneidade, basta-lhes uma bola e têm um jogo de futebol. Procuram utensílios que simulem balizas e, rapidamente, começam a jogar, em um para em, dois para dois, vários para vários, o que interessa é a bola, é ganhar, é levar melhor ao colega, melhorar para derrotar os seus amigos, melhorar e superar-se. A técnica evolui espontaneamente desde a tenra idade e temos dentro de algum tempo jovens potenciais. É na rua que nascem os grandes jogadores, porque desde jovens aprendem a querer melhorar o seu índice técnico, a defender e atacar melhor, jogam contra os mais velhos e descobrem novos “truques”.


Enquanto, os referidos anteriormente, passam uma tarde a jogar na rua futebol, os mais abonados financeiramente passam a tarde no computador.

- Mas nos grandes centros urbanos também há classe média/baixa, o problema é que onde os jovens podem jogar? 
- Nas estradas com carros a passar continuamente?
- Nos espaços verdes?
- Quais? 
- No pátio dos prédios? 
- Com poucos metros de comprimento é complicado!

Pois é, nos grandes centros urbanos ainda há poucos espaços onde se possa desenvolver a prática voluntária desportiva! Espaços onde os jovens saiam do prédio e possam jogar futebol. Existem alguns, mas são poucos, não dão resposta à procura. Mas será que há tanta procura nos espaços urbanos destes espaços? 

Ou será que preferem passear pelos centros comerciais? Ou porque não irem ao cinema? Ou então comer um gelado e ir a uma cadeia de fast-food? 

Pois é, vem o sedentarismo à baila, o consumismo e falta de motivação intrínseca deitam a atividade física para segundo plano. Depois se a motivação for pequena e estiver dentro de casa será que o indivíduo vai deixar o seu filme, ou música, ou jogo para ir para a rua jogar futebol? 

Muitos abdicam da prática desportiva, ou outros são de tal forma protegidos pelos pais que não podem sair à rua para não se magoarem, são superprotegidos e não aprendem a enfrentar os problemas, a correr, a saltar, a cair, a suportar a dor, a querer ser melhor e a tentar evoluir.


Por isso a grande massa de talento vem da periferia, dos espaços em que não existem aglomerados populacionais, onde desde novos aprendem a andar sozinhos, a correr, saltar, a ter uma bola e a jogar com o pai na rua, a trepar uma árvore para apanhar fruta, a ir para a escola e levar uma bola de farrapos para alimentar a sua ambição de jogar, a estarem na aula suados depois de terem estado a jogar no intervalo, a almoçarem rápido e ter um raspanete da sua família porque rapidamente vão para a rua jogar.


Mas a escola também tem cota parte de responsabilidade, porque desde novos as crianças têm todo o seu tempo ocupado por atividades teóricas, estando sentados metade do dia a olhar para livros. Então desta forma querem evitar a obesidade? Querem incentivar a atividade física? 

O jovem tem de ter tempo para estar com os seus amigos e irem descobrir o mundo, procurarem brincadeiras, construírem casas na árvore, procurar desafios, superarem-se, aprenderem a lidar com os sentimentos, com a ansiedade, com o medo, tornarem-se autônomos.


Todos temos a responsabilidade social de fazer com que as crianças possam desfrutar da vida e possam explorar o seu potencial, desde novos, jogando em todo o lado, porque o mundo para eles deve servir de campo de futebol!

Forte Abraço!!!

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito interessante esse texto, mais a vida na capital só nos tornam pais super protetores, pois a violência, a marginalidade, as drogas, a pedofilia e muitos outros problemas que existe, mais não só aqui na capital como também no interior (conheço muito bem, pois sou de um) nos deixa com medo de tudo e com isso sofrem os nossos filhos, que não pode desfrutar da liberdade que eu vivi e muito bem quando criança.

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