segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Cautela Pedagógica!

Cautela Pedagógica
Wilton Carlos de Santana
Mestre em Pedagogia do Movimento pela UNICAMP (SP)
Doutorando em Educação Física na UNICAMP (SP)


Voltarei a tema da formação em futebol (falei sobre isso no texto "Distorção", nesta página, em Editorial) pois julgo-o relevante, em particular num ano em que o esporte mais popular em nível mundial, por conta da Copa, ganha uma visibilidade incomensurável. 


Tem sido recorrente por parte dos dirigentes de futebol, em particular dos de times considerados pequenos, a atitude de destacar publicamente as virtudes de seus jovens jogadores. 


Em alguns casos chega-se a atribuir a crianças de 9 anos adjetivos como os de futuro grande craque e "fenômeno" (leia mais em "Distorção"). Como exemplo, citaria as matérias publicadas pela Folha de Londrina num passado recente ("Lusinha prepara o seu fenômeno", de 12/10/2004" e "Adap deve vender garoto de 9 anos para o Manchester", de 25/01/2005)


Nesta última, inclusive, o então presidente da Adap disse ser o menino "tão bom quanto Pelé e Maradona". Em geral, essas opiniões acontecem por conta de alguns gols e dribles que a criança faz diferentemente dos colegas da mesma idade. Esse assunto voltou a figurar na Folha quando da matéria "Alan, a mina de ouro do Tubarão", publicada em 05/05/06.

Imagino que matérias como essas não sejam veiculadas amiúde nos jornais brasileiros de expressão, a exemplo da Folha, haja vista que os grandes clubes do futebol brasileiro se ocupam de temas mais ligados ao desempenho das suas equipes profissionais. Porém, quando publicadas, revelam o despreparo de parte das pessoas em lidar com o esporte infanto-juvenil. Ora, não se deve lançar tamanhas expectativas (promessa, craque, fenômeno, mina de ouro) sobre jogadores em formação. Bastaria, para isso, o bom senso. Como este anda meio esquecido, vale lembrar uma máxima em se tratando de pedagogia do esporte: quanto mais novo o jogador, menos expectativas e comparações devem ser geradas. O momento é de relativizar os resultados face ao aprendizado.

"Ora, se ainda há reservas em se afirmar o talento de Lenny e Fred, que vêm se destacando com belos gols onde atuam, o que dizer de crianças e adolescentes?".

Diria que as crianças e os adolescente transformar-se-ão em promessas para o futebol (numa visão muito otimista) mais para frente, quando derem os seus primeiros passos no time profissional. Até lá, nada de atalhos. Vejamos alguns exemplos: Jádson, Dagoberto e Fernandindo, hoje com 22, 23 anos, estão entre os principais jogadores jovens do futebol mundial nas suas posições, mas quem os conhecia aos 15, 16 anos? Esses craques ratificaram a suspeita de todos nós, que trabalhávamos no PSTC (uma empresa de futebol, que se ocupa da revelação de talentos em geral e em particular para o Atlético-PR) na época, de que, um dia, chegariam "lá", a partir das suas entradas na equipe profissional do Atlético (PR); Oswaldo de Oliveria, atual técnico do Fluminense, quando perguntado sobre o desempenho de Lenny, de apenas 18 anos, mas que já é atacante titular da sua equipe, foi cauteloso: "É cedo para dizer, mas o menino promete"; Carlos Alberto Parreira afirmou em entrevista, após a vitória sobre a Austrália, que Fred se tratava, de "um jovem jogador; uma promessa". Ora, se ainda há reservas em se afirmar o talento de Lenny e Fred, que vêm se destacando com belos gols onde atuam, o que dizer de crianças e adolescentes?

Torço pelo sucesso de todo jovem e de toda criança que joga futebol. Mas sejamos prudentes. A mentalidade imediatista de parte dos dirigentes ratifica que o futebol na infância e na adolescência, em boa parte dos casos, transformou-se, apenas, num palco de negócios. Por detrás desse tipo de atitude vem, invariavelmente, o objetivo de divulgar o clube e a si mesmo, ou seja, é uma forma intencional de usar o outro para se autopromover e ao clube.

Treinei muitos jovens que hoje são profissionais de futebol e de futsal. Aprendi que o processo de formação de um jogador é progressivo, complexo e não permite atalhos. Basta respeitar isso e não lhes encher a cabeça de promessas; de "perfumaria". Isso mais atrapalha que o contrário.

Pedagogia do Futsal  
Wilton Carlos de Santana

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